sábado, 23 de julho de 2011

Educação hoje: Reflexões críticas


Por: ROSALINA ROCHA ARAUJO MORAES
A educação brasileira, que em outros contextos históricos era muito mais precária, hoje apresenta avanços significativos no que diz respeito a fatores como infra-estrutura, formação de professores, material didático, inovações tecnológicas, entre outros aspectos que deveriam favorecer a aprendizagem. Mas, apesar dos investimentos e incentivos, os dados de aprendizagem obtidos através de avaliações como: SAEB SPAECE, ENEM, entre outros, apontam resultados que não condizem com os esforços governamentais e os investimentos feitos na área.
O ensino ofertado em nossas escolas públicas não tem conseguido dar conta dos aspectos mais básicos e primordiais da aprendizagem, como aquisição de leitura e escrita, por exemplo.
É comum ouvir de professores queixas do tipo: os meninos de hoje não lêem, decodificam; os alunos chagam ao final do ensino médio sem compreender o que lêem e sem saber fazer uma redação; o aluno não consegue resolver um problema simples de matemática porque nem entender o problema ele consegue. Ou seja, o aluno não está mais aprendendo a ler e a escrever. Está chegando ao final da Educação Básica com deficiência séria nessa área. Sendo assim, todas as outras áreas do conhecimento ficam comprometidas uma vez que ele nem sabe escrever nem compreende o que lê. Embora pareça determinismo demais falar dessa forma, os dados de desempenho em leitura e escrita apontam para essa conclusão.
Se na Europa, cujo contexto social, econômico e cultural, difere, ao extremo, do nosso, a situação já se mostra preocupante, o que dizer no caso brasileiro? Segundo dados do PISA apresentados por Cecília Braslavsky no texto intitulado Diez factores para uma educación de calidad para todos em El siglo XXI , 13% dos jovens e adolescentes europeus não compreende o que lê. No Brasil os dados são ainda mais inquietantes.
Nesse contexto o município de horizonte inova ao criar dois projetos com foco na leitura e escrita para os anos iniciais do Ensino Fundamental: projeto Lendo Você Fica Sabendo, e Projeto Vivenciando a leitura e a escrita.
Embora consideremos louváveis ações dessa natureza, que visam à melhoria da qualidade educacional, esses projetos apresentam características que nos levam a analisá-los como verdadeiras “camisas de força” para os docentes daquela cidade.
Trabalhando com uma “formação continuada” baseada na instrumentalização e “adestramento” dos professores, a consultoria pedagógica Aprender, responsável pela idealização e execução dos dois projetos limita o trabalho dos professores à aplicação de “receitas prontas” de como executar uma aula. Não cabe mais aos professores, planejar, pensar estratégias para ensinar, enfim, pensar e elaborar sua aula. Cabe-lhes agora executar uma aula que já vem determinada minuto a minuto, como pode ser observado pela análise das rotinas pedagógicas.

Professora Amanda Gurgel se recusa a receber prêmio


A professora Amanda Gurgel, que ficou conhecida após fazer um discurso na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte a respeito da situação da educação no Estado – que resultou num vídeo acessado por mais de um milhão de internautas no YouTube – recusou, no sábado 2, receber um prêmio oferecido em sua homenagem pela associação Pensamento Nacional de Bases Empresariais.
A organização havia dedicado a ela o prêmio 2011 na categoria “educador de valor”. Em sua justificativa, a professora destacou que, “embora exista desde 1994, esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora”.
“Esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald’s, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva. A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades”, justificou.
Amanda Gurgel, que em seu discurso na Assembleia se queixou do salário que recebe como professora e da situação do sistema de ensino no País, disse que seus projetos são “diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE”, grupo mantido por empresários paulistas e, segundo ela, comprometida apenas com “a economia de mercado”, “à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista”.
Entre as reivindicações da professora, manifestadas em seu site pessoal, estão a valorização do trabalho docente e a elevação para 10% da destinação do Produto Interno Bruto para a educação.
“Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal”, escreveu ela, antes de dizer que não poderia aceitar o prêmio.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Reprovar alunos é contraproducente, diz OCDE

  Reprovação nas escolas não é o melhor caminho para aumentar a produtividade do aluno. Essa é a conclusão de um estudo divulgado nesta quarta-feira pela OCDE, organização que reúne as nações mais desenvolvidas do mundo. De acordo com o levantamento, os países que adotam o sistema de reprovação registram baixo desempenho no Pisa, avaliação internacional capitaneada pela OCDE. Além disso, repetir um aluno custa caro, para o governo e para a sociedade.
Segundo o estudo, na China e Japão, primeiro e oitavo colocados no Pisa, respectivamente, o índice de reprovação é próximo do zero. Por outro lado, em nações como Argentina (58º), Colômbia (52º) e Uruguai (47º), o índice de reprovação está acima dos 30%. No Brasil, a taxa é de 40%, e o país ocupa a 53ª posição entre 65 nações que participam do Pisa.
Além de afetar o desempenho dos estudantes, o sistema de repetência demanda grandes custos para o governo, que precisa pagar os estudos das crianças e jovens reprovados por mais um ano, e para a sociedade, uma vez que os estudantes demoram mais para entrar no mercado de trabalho. Em países como Islândia, o custo monetário é pequeno, cerca de 500 dólares anuais. Mas na Bélgica e Espanha, que registram taxas de reprovação maiores, o custo pode ultrapassar os 11.000 dólares anuais por aluno.
Outra prática apontada pela OCDE como pouco produtiva é a transferência, para outras escolas, dos alunos com baixo desempenho, necessidades especiais de aprendizado ou problemas comportamentais. É uma prática comum na Colômbia e Grécia – ambos tiveram um rendimento abaixo do esperado na última edição do Pisa.
"Uma vez transferidos, os estudantes mantêm menos contato com os antigos colegas, o que afeta seu círculo social. Também, perdem a motivação para os próximos exames", diz o texto do relatório.
O estudo da OCDE acrescenta ainda que, nas escolas onde a transferência não é uma opção comum, os diretores tendem a ser mais responsáveis pelo desempenho de seus alunos. Esses educadores buscam saídas efetivas que interfiram no rendimento dos alunos com dificuldades de aprendizado ou de comportamento.
Alternativas – A discussão sobre os efeitos da reprovação na vida dos estudantes é um tópico antigo na área da pedagogia brasileira. Para aqueles que defendem o fim do mecanismo, uma das alternativas é o que ficou conhecido como progressão continuada. A prática trocou a tradicional aprovação/reprovação anual por ciclos de aprendizagem, que avaliam o estudante, mas não o reprovam – concentrando-se em acompanhar o desenvolvimento de cada aluno para sanar suas dificuldades. O modelo foi adotado há 15 anos no estado de São Paulo e desde então se expandiu a outras unidades da federação.
Formulada a partir de políticas e da realidade europeia, a progressão continuada previa uma avaliação dos estudantes ao fim dos ciclos. Em países como a Grã-Bretanha, onde obteve bons resultados, os ciclos têm duração de apenas dois anos – e não quatro, como no Brasil. Naquele período, os alunos dividem a sala de aula com no máximo 30 colegas – algo incomum nas escola públicas do Brasil. Com um grupo reduzido, o professor pode dar atenção a cada aluno.
No Brasil, a adoção do modelo ainda é controversa – e seus frutos, discutíveis. No último índice de educação feito pela Unesco, braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para a educação e a cultura, o país ocupou apenas a 88ª posição entre 128 nações. Por sua vez, dados do Sistema Nacional da Avaliação da Educação Básica (Saeb) relativos ao período 1995-2005, quando a aprovação automática ganhou força, mostram que a qualidade do ensino piorou. Em 1995, a média de proficiência em língua portuguesa dos alunos da quarta série do ensino fundamental era de 188,3 pontos. Em 2005, caiu para 172,3 pontos. Na terceira série do ensino médio os números são mais alarmantes: 290 pontos, em 1995, ante 257,6 pontos.

sábado, 9 de julho de 2011

21. Como lidar com o cyberbullying?



Mesmo virtual, o cyberbulling precisa receber o mesmo cuidado preventivo do bullying e a dimensão dos seus efeitos deve sempre ser abordada para se evitar a agressão na internet. Trabalhar com a ideia de que nem sempre se consegue tirar do ar aquilo que foi para a rede dá à turma a noção de como as piadas ou as provocações não são inofensivas. ''O que chamam de brincadeira pode destruir a vida do outro. É também responsabilidade da escola abrir espaço para se discutir o fenômeno'', afirma Telma Vinha, doutora em Psicologia Educacional e professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Caso o bullying ocorra, é preciso deixar evidente para crianças e adolescentes que eles podem confiar nos adultos que os cercam para contar sobre os casos sem medo de represálias, como a proibição de redes sociais ou celulares, uma vez que terão a certeza de que vão encontrar ajuda. ''Mas, muitas vezes, as crianças não recorrem aos adultos porque acham que o problema só vai piorar com a intervenção punitiva'', explica a especialista.

20. O que é bullying virtual ou cyberbullying?


É o bullying que ocorre em meios eletrônicos, com  mensagens difamatórias ou ameaçadoras circulando por e-mails, sites, blogs (os diários virtuais), redes sociais e celulares. É quase uma extensão do que dizem e fazem na escola, mas com o agravante de que as pessoas envolvidas não estão cara a cara.
Dessa forma, o anonimato pode aumentar a crueldade dos comentários e das ameaças e os efeitos podem ser tão graves ou piores. "O autor, assim como o alvo, tem dificuldade de sair de seu papel e retomar valores esquecidos ou formar novos", explica Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar e pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinhas (Unicamp).

Esse tormento que a agressão pela internet faz com que a criança ou o adolescente humilhado não se sinta mais seguro em lugar algum, em momento algum. Marcelo Coutinho, especialista no tema e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz que esses estudantes não percebem as armadilhas dos relacionamentos digitais. "Para eles, é tudo real, como se fosse do jeito tradicional, tanto para fazer amigos como para comprar, aprender ou combinar um passeio."

19. Quais são as especificidades para lidar com o bullying na Educação Infantil?


Para evitar o bullying, é preciso que a escola valide os princípios de respeito desde cedo. É comum que as crianças menores briguem com o argumento de não gostar uns dos outros, mas o educador precisa apontar que todos devem ser respeitados, independentemente de se dar bem ou não com uma pessoa, para que essa ideia não persista durante o desenvolvimento da criança.

Quando o bullying ocorre entre os pequenos, o educador deve ajudar o alvo da agressão a lidar com a dor trazida pelo conflito. A indignação faz com que a criança tenha alguma reação. ''Muitas vezes, o professor, em vez de mostrar como resolver a briga com uma conversa, incentiva a paz sem o senso de injustiça, pois o submisso não dá trabalho'', ressalta Telma Vinha, doutora em Psicologia Educacional e professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

18. Bullying na Educação Infantil. É possível?


Sim, se houver a intenção de ferir ou humilhar o colega repetidas vezes. Entre as crianças menores, é comum que as brigas estejam relacionadas às disputas de território, de posse ou de atenção - o que não caracteriza o bullying. No entanto, por exemplo, se uma criança apresentar alguma particularidade, como não conseguir segurar o xixi, e os colegas a segregarem por isso ou darem apelidos para ofendê-la constantemente, trata-se de um caso de bullying.
"Há estudos na Psicologia que afirmam que, por volta dos dois anos de idade, há uma primeira tomada de consciência de 'quem eu sou', separada de outros objetos, como a mãe.
E perto dos 3 anos, as crianças começam a se identificar como um indivíduo diferente do outro, sendo possível que uma criança seja alvo ou vítima de bullying. Essa conduta, porém, será mais frequentes num momento em que houver uma maior relação entre pares, mais cotidiana e estabelecida com os outros'', explica Adriana Ramos, pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora do curso de pós-graduação As relações interpessoais na escola e a construção da autonomia moral", da Universidade de Franca (Unifran).

17. O que fazer em casos extremos de bullying?


A primeira ação deve ser mostrar aos envolvidos que a escola não tolera determinado tipo de conduta e por quê. Nesse encontro, deve-se abordar a questão da tolerância ao diferente e do respeito por todos, inclusive com os pais dos alunos envolvidos.

Mais agressões ou ações impulsivas entre os envolvidos podem ser evitadas com espaços para diálogo. Uma conversa individual com cada um funciona como um desabafo e é função do educador mostrar que ninguém está desamparado.
''Os alunos e os pais têm a sensação de impotência e a escola não pode deixá-los abandonados. É mais fácil responsabilizar a família, mas isso não contribui para a resolução de um conflito'', diz Telma Vinha, doutora em Psicologia Educacional e professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A especialista também aponta que a conversa em conjunto, com todos os envolvidos, não pode ser feita em tom de acusação. ''Deve-se pensar em maneiras de mostrar como o alvo do bullying se sente com a agressão e chegar a um acordo em conjunto. E, depois de alguns dias, vale perguntar novamente como está a relação entre os envolvidos'', explica Telma.

É também essencial que o trabalho de conscientização seja feito também com os espectadores do bullying, aqueles que endossam a agressão e os que a assistem passivamente. Sem que a plateia entenda quão nociva a violência pode ser, ela se repetirá em outras ocasiões.

16. Como deve ser uma conversa com os pais dos alunos envolvidos no bullying?


É preciso mediar a conversa e evitar o tom de acusação de ambos os lados. Esse tipo de abordagem não mostra como o outro se sente ao sofrer bullying. Deve ser sinalizado aos pais que alguns comentários simples, que julgam inofensivos e divertidos, são carregados de ideias preconceituosas.
''O ideal é que a questão da reparação da violência passe por um acordo conjunto entre os envolvidos, no qual todos consigam enxergar em que ponto o alvo foi agredido para, assim, restaurar a relação de respeito'' explica Telma Vinha, professora do Departamento de Psicologia Educacional da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Muitas vezes, a escola trata de forma inadequada os casos relatados por pais e alunos, responsabilizando a família pelo problema. É papel dos educadores sempre dialogar com os pais sobre os conflitos - seja o filho alvo ou autor do bullying, pois ambos precisam de ajuda e apoio psicológico.

15. Como lidar com o bullying contra alunos com deficiência?

Conversar abertamente sobre a deficiência é uma ação que deve ser cotidiana na escola. O bullying contra esse público costuma ser estimulado pela falta de conhecimento sobre as deficiências, sejam elas físicas ou intelectuais, e, em boa parte, pelo preconceito trazido de casa. 

De acordo com a psicóloga Sônia Casarin, diretora do S.O.S. Down - Serviço de Orientação sobre Síndrome de Down, em São Paulo, é normal os alunos reagirem negativamente diante de uma situação desconhecida. Cabe ao educador estabelecer limites para essas reações e buscar erradicá-las não pela imposição, mas por meio da conscientização e do esclarecimento.

Não se trata de estabelecer vítimas e culpados quando o assunto é o bullying. Isso só reforça uma situação polarizada e não ajuda em nada a resolução dos conflitos. Melhor do que apenas culpar um aluno e vitimar o outro é desatar os nós da tensão por meio do diálogo. A violência começa em tirar do aluno com deficiência o direito de ser um participante do processo de aprendizagem. É tarefa dos educadores oferecer um ambiente propício para que todos, especialmente os que têm deficiência, se desenvolvam. Com respeito e harmonia.

14. Como agir com os alunos envolvidos em um caso de bullying?


O foco deve se voltar para a recuperação de valores essenciais, como o respeito pelo que o alvo sentiu ao sofrer a violência. A escola não pode legitimar a atuação do autor da agressão nem humilhá-lo ou puni-lo com medidas não relacionadas ao mal causado, como proibi-lo de frequentar o intervalo.

Já o alvo precisa ter a autoestima fortalecida e sentir que está em um lugar seguro para falar sobre o ocorrido. "Às vezes, quando o aluno resolve conversar, não recebe a atenção necessária, pois a escola não acha o problema grave e deixa passar", alerta Aramis Lopes, presidente do Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Ainda é preciso conscientizar o espectador do bullying, que endossa a ação do autor. ''Trazer para a aula situações hipotéticas, como realizar atividades com trocas de papéis,  são ações que ajudam a conscientizar toda a turma.
A exibição de filmes que retratam o bullying, como ''As melhores coisas do mundo'' (Brasil, 2010), da cineasta Laís Bodanzky, também ajudam no trabalho. A partir do momento em que a escola fala com quem assiste à violência, ele para de aplaudir e o autor perde sua fama'', explica Adriana Ramos, pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora do curso de pós-graduação ''As relações interpessoais na escola e a construção da autonomia moral'', da Universidade de Franca (Unifran).

13. O que fazer para evitar o bullying?


A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia) sugere as seguintes atitudes para um ambiente saudável na escola:
- Conversar com os alunos e escutar atentamente reclamações ou sugestões;
- Estimular os estudantes a informar os casos;
- Reconhecer e valorizar as atitudes da garotada no combate ao problema;
- Criar com os estudantes regras de disciplina para a classe em coerência com o regimento escolar;
- Estimular lideranças positivas entre os alunos, prevenindo futuros casos;
- Interferir diretamente nos grupos, o quanto antes, para quebrar a dinâmica do bullying.
Todo ambiente escolar pode apresentar esse problema. "A escola que afirma não ter bullying ou não sabe o que é ou está negando sua existência", diz o pediatra Lauro Monteiro Filho, fundador da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia). O primeiro passo é admitir que a escola é um local passível de bullying. Deve-se também informar professores e alunos sobre o que é o problema e deixar claro que o estabelecimento não admitirá a prática.

"A escola não deve ser apenas um local de ensino formal, mas também de formação cidadã, de direitos e deveres, amizade, cooperação e solidariedade. Agir contra o bullying é uma forma barata e eficiente de diminuir a violência entre estudantes e na sociedade", afirma o pediatra.

12. O professor também é alvo de bullying?


Conceitualmente, não, pois, para ser considerada bullying, é necessário que a violência ocorra entre pares, como colegas de classe ou de trabalho. O professor pode, então, sofrer outros tipos de agressão, como injúria ou difamação ou até física, por parte de um ou mais alunos.

Mesmo não sendo entendida como bullying, trata-se de uma situação que exige a reflexão sobre o convívio entre membros da comunidade escolar. Quando as agressões ocorrem, o problema está na escola como um todo. Em uma reunião com todos os educadores, pode-se descobrir se a violência está acontecendo com outras pessoas da equipe para intervir e restabelecer as noções de respeito.

Se for uma questão pontual, com um professor apenas, é necessário refletir sobre a relação entre o docente e o aluno ou a classe. ''O jovem que faz esse tipo de coisa normalmente quer expor uma relação com o professor que não está bem. Existem comunidades na internet, por exemplo, que homenageiam os docentes. Então, se o aluno se sente respeitado pelo professor, qual o motivo de agredi-lo?'', questiona Adriana Ramos, pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora do curso de pós-graduação "As relações interpessoais na escola e a construção da autonomia moral", da Universidade de Franca (Unifran).

O professor é uma autoridade na sala de aula, mas essa autoridade só é legitimada com o reconhecimento dos alunos em uma relação de respeito mútua. ''O jovem está em processo de formação e o educador é o adulto do conflito e precisa reagir com dignidade'', afirma Telma Vinha, doutora em Psicologia Educacional e professora da Faculdade de Educação da Unicamp.

11. Qual o papel do professor em conflitos fora da sala de aula?


O professor é um exemplo fundamental de pessoa que não resolve conflitos com a violência. Não adianta, porém, pensar que o bullying só é problema dos educadores quando ocorre do portão para dentro. É papel da escola construir uma comunidade na qual todas as relações são respeitosas.
''Deve-se conscientizar os pais e os alunos sobre os efeitos das agressões fora do ambiente escolar, como na internet, por exemplo'', explica Adriana Ramos, pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora do curso de pós-graduação ''As relações interpessoais na escola e a construção da autonomia moral'', da Universidade de Franca (Unifran).
''A intervenção da escola também precisa chegar ao espectador, o agente que aplaude a ação do autor é fundamental para a ocorrência da agressão'', complementa a especialista.

10. O que fazer em sala de aula quando se identifica um caso de bullying?


Ao surgir uma situação em sala, a intervenção deve ser imediata. "Se algo ocorre e o professor se omite ou até mesmo dá uma risadinha por causa de uma piada ou de um comentário, vai pelo caminho errado. Ele deve ser o primeiro a mostrar respeito e dar o exemplo", diz Aramis Lopes Neto, presidente do Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria.
O professor pode identificar os atores do bullying: autores, espectadores e alvos. Claro que existem as brincadeiras entre colegas no ambiente escolar. Mas é necessário distinguir o limiar entre uma piada aceitável e uma agressão. "Isso não é tão difícil como parece. Basta que o professor se coloque no lugar da vítima. O apelido é engraçado? Mas como eu me sentiria se fosse chamado assim?", orienta o pediatra Lauro Monteiro Filho.

Veja os conselhos dos especialistas Cléo Fante e José Augusto Pedra, autores do livro Bullying Escolar (132 págs., Ed. Artmed, tel; 0800 703 3444):
- Incentivar a solidariedade, a generosidade e o respeito às diferenças por meio de conversas, campanhas de incentivo à paz e à tolerância, trabalhos didáticos, como atividades de cooperação e interpretação de diferentes papéis em um conflito;
- Desenvolver em sala de aula um ambiente favorável à comunicação entre alunos;
- Quando um estudante reclamar de algo ou denunciar o bullying, procurar imediatamente a direção da escola.

9. Existe diferença entre o bullying praticado por meninos e por meninas?


De modo geral, sim.
 As ações dos meninos são mais expansivas e agressivas, portanto, mais fáceis de identificar. Eles chutam, gritam, empurram, batem.
Já no universo feminino o problema se apresenta de forma mais velada. As manifestações entre elas podem ser fofocas, boatos, olhares, sussurros, exclusão. "As garotas raramente dizem por que fazem isso. Quem sofre não sabe o motivo e se sente culpada", explica a pesquisadora norte-americana Rachel Simmons, especialista em bullying feminino.
Ela conta que as meninas agem dessa maneira porque a expectativa da sociedade é de que sejam boazinhas, dóceis e sempre passivas. Para demonstrar qualquer sentimento contrário, elas utilizam meios mais discretos, mas não menos prejudiciais. "É preciso reconhecer que as garotas também sentem raiva. A agressividade é natural no ser humano, mas elas são forçadas a encontrar outros meios - além dos físicos - para se expressar", diz Rachel.

8. O que é pior: o bullying com agressão física ou o bullying com agressão moral?


Ambas as agressões são graves e têm danos nocivos ao alvo do bullying. Por ter consequências imediatas e facilmente visíveis, a violência física muitas vezes é considerada mais grave do que um xingamento ou uma fofoca.
''A dificuldade que a escola encontra é justamente porque o professor também vê uma blusa rasgada ou um material furtado como algo concreto. Não percebe que a uma exclusão, por exemplo, é tão dolorida quanto ou até mais'', explica Telma Vinha, doutora em Psicologia Educacional e professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Os jovens também podem repetir esse mesmo raciocínio e a escola deve permanecer alerta aos comportamentos moralmente abusivos.

7. Quais são as consequências para o aluno que é alvo de bullying?


O aluno que sofre bullying, principalmente quando não pede ajuda, enfrenta medo e vergonha de ir à escola. Pode querer abandonar os estudos, não se achar bom para integrar o grupo e apresentar baixo rendimento.
Uma pesquisa da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia) revela que 41,6% das vítimas nunca procuraram ajuda ou falaram sobre o problema, nem mesmo com os colegas.

As vítimas chegam a concordar com a agressão, de acordo com Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar e pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinhas (Unicamp). O discurso deles segue no seguinte sentido: "Se sou gorda, por que vou dizer o contrário?"
Aqueles que conseguem reagir podem alternar momentos de ansiedade e agressividade. Para mostrar que não são covardes ou quando percebem que seus agressores ficaram impunes, os alvos podem escolher outras pessoas mais indefesas e passam a provocá-las, tornando-se alvo e agressor ao mesmo tempo.

6. Como identificar o alvo do bullying?


O alvo costuma ser uma criança com baixa autoestima e retraída tanto na escola quanto no lar. ''Por essas características, é difícil esse jovem conseguir reagir'', afirma o pediatra Lauro Monteiro Filho. Aí é que entra a questão da repetição no bullying, pois se o aluno procura ajuda, a tendência é que a provocação cesse.

Além dos traços psicológicos, os alvos desse tipo de violência costumam apresentar particularidades físicas. As agressões podem ainda abordar aspectos culturais, étnicos e religiosos.
"Também pode ocorrer com um novato ou com uma menina bonita, que acaba sendo perseguida pelas colegas", exemplifica Guilherme Schelb, procurador da República e autor do livro Violência e Criminalidade Infanto-Juvenil (164 págs., Thesaurus Editora tel. (61) 3344-3738).

5. O espectador também participa do bullying?

Sim. O espectador é um personagem fundamental no bullying. É comum pensar que há apenas dois envolvidos no conflito: o autor e o alvo. Mas os especialistas alertam para um terceiro personagem responsável pela continuidade do conflito.
O espectador típico é uma testemunha dos fatos, pois não sai em defesa da vítima nem se junta aos autores. Quando recebe uma mensagem, não repassa. Essa atitude passiva pode ocorrer por medo de também ser alvo de ataques ou por falta de iniciativa para tomar partido.

Os que atuam como plateia ativa ou como torcida, reforçando a agressão, rindo ou dizendo palavras de incentivo também são considerados espectadores. Eles retransmitem imagens ou fofocas. Geralmente, estão acostumados com a prática, encarando-a como natural dentro do ambiente escolar. ''O espectador se fecha aos relacionamentos, se exclui porque ele acha que pode sofrer também no futuro.
Se for pela internet, por exemplo, ele ‘apenas’ repassa a informação. Mas isso o torna um coautor'', explica a pesquisadora Cléo Fante, educadora e autora do livro Fenômeno Bullying: Como Prevenir a Violência nas Escolas e Educar para a Paz (224 págs., Ed. Verus, tel. (19) 4009-6868).

4. O que leva o autor do bullying a praticá-lo?


Querer ser mais popular, sentir-se poderoso e obter uma boa imagem de si mesmo. Isso tudo leva o autor do bullying a atingir o colega com repetidas humilhações ou depreciações. É uma pessoa que não aprendeu a transformar sua raiva em diálogo e para quem o sofrimento do outro não é motivo para ele deixar de agir. Pelo contrário, sente-se satisfeito com a opressão do agredido, supondo ou antecipando quão dolorosa será aquela crueldade vivida pela vítima.

''O autor não é assim apenas na escola. Normalmente ele tem uma relação familiar na qual tudo se resolve pela violência verbal ou física e ele reproduz isso no ambiente escolar'', explica o médico pediatra Lauro Monteiro Filho, fundador da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia).
Sozinha, a escola não consegue resolver o problema, mas é normalmente nesse ambiente que se demonstram os primeiros sinais de um praticante de bullying. "A tendência é que ele seja assim por toda a vida, a menos que seja tratado", diz.

3. O bullying é um fenômeno recente?


Não. O bullying sempre existiu. No entanto, o primeiro a relacionar a palavra a um fenômeno foi Dan Olweus, professor da Universidade da Noruega, no fim da década de 1970. Ao estudar as tendências suicidas entre adolescentes, o pesquisador descobriu que a maioria desses jovens tinha sofrido algum tipo de ameaça e que, portanto, o bullying era um mal a combater.

A popularidade do fenômeno cresceu com a influência dos meios eletrônicos, como a internet e as reportagens na televisão, pois os apelidos pejorativos e as brincadeiras ofensivas foram tomando proporções maiores. "O fato de ter consequências trágicas - como mortes e suicídios - e a impunidade proporcionaram a necessidade de se discutir de forma mais séria o tema", aponta Guilherme Schelb, procurador da República e autor do livro Violência e Criminalidade Infanto-Juvenil (164 págs., Thesaurus Editora tel. (61) 3344-3738).

2. O que não é bullying?


Discussões ou brigas pontuais não são bullying. Conflitos entre professor e aluno ou aluno e gestor também não são considerados bullying. Para que seja bullying, é necessário que a agressão ocorra entre pares (colegas de classe ou de trabalho, por exemplo). Todo bullying é uma agressão, mas nem toda a agressão é classificada como bullying. 
Para Telma Vinha, doutora em Psicologia Educacional e professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), para ser dada como bullying, a agressão física ou moral deve apresentar quatro características: a intenção do autor em ferir o alvo, a repetição da agressão, a presença de um público espectador e a concordância do alvo com relação à ofensa. ''Quando o alvo supera o motivo da agressão, ele reage ou ignora, desmotivando a ação do autor'', explica a especialista.

21 perguntas e respostas sobre bullying

1. O que é bullying?


Bullying é uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou mais colegas. O termo bullying tem origem na palavra inglesabully, que significa valentão, brigão. Mesmo sem uma denominação em português, é entendido como ameaça, tirania, opressão, intimidação, humilhação e maltrato.

"É uma das formas de violência que mais cresce no mundo", afirma Cléo Fante, educadora e autora do livro Fenômeno Bullying: Como Prevenir a Violência nas Escolas e Educar para a Paz (224 págs., Ed. Verus, tel. (19) 4009-6868 ). Segundo a especialista, o bullying pode ocorrer em qualquer contexto social, como escolas, universidades, famílias, vizinhança e locais de trabalho. O que, à primeira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo pode afetar emocional e fisicamente o alvo da ofensa.
Além de um possível isolamento ou queda do rendimento escolar, crianças e adolescentes que passam por humilhações racistas, difamatórias ou separatistas podesm apresentar doenças psicossomáticas e sofrer de algum tipo de trauma que influencie traços da personalidade. Em alguns casos extremos, o bullying chega a afetar o estado emocional do jovem de tal maneira que ele opte por soluções trágicas, como o suicídio.

Interpretação de enunciados de problemas


Objetivo
Interpretar os enunciados dos problemas.
Anos
2º e 3º anos
Flexibilização
Para alunos com deficiência intelectual
Alunos com deficiência intelectual podem aprender a resolver problemas de adição e de subtração. Procure explorar situações do cotidiano da criança e repita a atividade diversas vezes para facilitar a compreensão. Antecipe as atividades para o aluno e amplie o tempo de realização das etapas para que esta criança proponha uma solução e compartilhe-a com os colegas. Proponha atividades que possam ser realizadas em casa e conte, também, com a ajuda do AEE.

Desenvolvimento
Organize as crianças em duplas e apresente a situação-problema: "Mamãe foi ao mercado e na sacola trouxe: 12 laranjas, 3 litros de leite, 1 pão de fôrma, 4 maçãs, 1 penca com 8 bananas e 2 caixas de suco de uva. Quantas frutas ela comprou?" Solicite que um aluno explique para o outro quais informações devem ser selecionadas para resolver a questão, relatando qual caminho usou para resolvê-lo. As duplas terão de chegar a um consenso sobre a estratégia escolhida. Solicite que algumas duplas apresentem os procedimentos utilizados e justifiquem. Pergunte: quem pode ler o problema novamente? Há alguma palavra nova ou desconhecida? Do que ele trata? Qual é a pergunta? O que se quer saber? Retome a leitura do enunciado quantas vezes forem necessárias e peça que grifem informações que serão utilizadas. Em seguida, peça que façam os cálculos.

Avaliação
Valide os resultados e pergunte: por que as repostas dos cálculos foram diferentes? O que precisamos fazer para resolver problemas parecidos como esse? As conclusões devem ser registradas no quadro, como quais informações selecionar e quais não são necessárias. Intervenha caso as respostas fujam do esperado.

Natalia Zuazo e Mirta Castedo falam sobre escrita no Twitter

No artigo Culturas Escritas y Escuela: Viejas e Nuevas Diversidades, as pesquisadoras Natalia Zuazo e Mirta Castedo argumentam que o Twitter é uma ferramenta tecnológica que permite trabalhar com versões reduzidas de diferentes gêneros textuais, como notícias e contos, escritos em até 140 caracteres.
Na entrevista a seguir, as pesquisadoras falam sobre a produção de microcontos no site, comentam as intervenções do professor nesse processo e abordam a relação imediata entre autor e leitores, que caracteriza as publicações na rede social.
Em sua pesquisa, vocês tratam das possibilidades de interação entre o leitor e os autores na Internet. Isso também acontece no Twitter?
NATALIA ZUAZO Sim. No Twitter temos uma visão muito clara do autor. Ele escreve em primeira pessoa, vemos sua foto, o dia e a hora em que escreve. A ferramenta permite uma interação imediata, não editada, que vai construindo conjuntamente a história.
E como isso contribui com o trabalho em sala de aula?
MIRTA CASTEDO Depende do trabalho planejado. Se você propõe que a turma siga um autor, é relevante saber quem diz o quê, como ele está mudando ou mantendo o que diz. Se a proposta é seguir um tema, o foco será a argumentação. Se o trabalho é com uma seleção de tuítes literários, vale comparar os recursos da ferramenta com outros contos breves de autores consagrados. Talvez seja possível descobrir que alguém escreve como Monterroso [escritor guatemalteca, autor de "A ovelha negra e outras fábulas"] ou como em alguns contos breves de origem oriental.
É possível trabalhar os conteúdos de Língua Portuguesa utilizando o Twitter em escolas sem computadores ou acesso à Internet?
NATALIA Além da plataforma, que funciona como uma mistura de blog (porque publicamos textos cronologicamente, sempre com o mesmo autor) e de rede social (porque seguimos e somos seguidos pelos outros), faz parte da natureza do Twitter o imediatismo da publicação - escrevemos, publicamos e somos lidos, instantaneamente. Esse imediatismo condiciona a forma como os tuítes são concebidos. Por isso, não sei se faz muito sentido escrevê-los off-line e depois publicá-los quando tivermos acesso a um computador. No suporte online, a construção da história também se dá pelas interações com outras pessoas, que se misturam com o que escrevemos. Se não estamos online para ir construindo as histórias, um recurso importante da plataforma é desperdiçado.
MIRTA Não podemos esquecer que uma escola é uma escola. Isso significa que o grau de transformação das práticas sociais de referência na escola varia em função dos propósitos de ensino. Por isso, é indispensável mergulhar na prática e, depois, quando já se conhece a prática, o professor pode "parar" a ação para analisá-la. Nesse caso, tanto faz estar online ou não, porque é possível trabalhar com a análise de tuítes, sem produzi-los em tempo real.
É importante estudar modelos de microcontos antes de se começar o trabalho?
NATALIA Acho que é preciso estudar que características tornam um microconto bom. O Twitter oferece boas oportunidades para se estudar o gênero, sua história e ler contos curtos.
MIRTA Colocamos os alunos para produzir e, ao fazermos isso, ajudamos a turma a refletir sobre "como se faz", "por que", "sob quais condições", "quais são os efeitos" etc. Dessa forma, construímos modelos de produção e modelos de produtos. Não se trata apenas de mostrar e de explicar, mas de fazer (ler, escrever, responder, contra-argumentar) e refletir sobre o que se faz. Algo muito importante nesse contexto é fazer comparações: comparamos os tuítes com os relatos mínimos em papel preexistentes; a ironia no tuíte com a ironia em uma nota de jornal; a metáfora do tuíte com a da lírica. Porque o tema em questão não é somente o Twitter, mas a cultura escrita.

Modificar os textos é um ponto importante sobre a utilização do Twitter em sala? Como o professor pode lidar com essa questão no trabalho com microcontos?
NATALIA No Twitter é possível apagar um tuíte anterior, mas isso não é bem visto segundo as regras de etiqueta na rede ["netiqueta"]. Ele foi pensado para ser usado em tempo real, e a edição, a modificação ou a correção de textos é feita na vista de todos e fica documentada, tuíte por tuíte. Trata-se de uma plataforma que nos desnuda em nossa construção como escritores. Há quem a use com menos imediatismo e pense muito antes de escrever (editam os textos off-line ou passam muito tempo com a janela do Twitter aberta), outros que apagam os tuítes e outros que não se importam em desnudar a própria escrita para os outros. Se o objetivo é que sejamos conscientes da construção de um texto e de como o modificamos, o Twitter permite fazer isso interagindo com outras pessoas, mas em vez de o fazermos em uma lousa, utilizamos uma plataforma distinta. Se trabalharmos todos juntos construindo um microrrelato de 140 caracteres, podemos editar em conjunto.
MIRTA Ter um interlocutor que não é o professor e que comenta o tuíte, dizendo se entendeu ou não, se causou riso, se compreendeu o contrário do que o autor quis dizer, isso é uma grande vantagem pedagógica.
Nas redes sociais o autor tem uma grande liberdade. Como o professor orienta a produção de texto sem mudar essa prática social?
MIRTA A escola, em alguns momentos, tem que transformar certas condições de circulação e produção dos gêneros justamente para poder estudá-los. Mas, por que isso seria perder a liberdade de autor? Trata-se de uma orientação para que o autor-aluno tenha liberdade de expressar com precisão o que quer dizer.
Quanto à socialização do conteúdo, a publicação na internet basta ou o professor deve criar outras estratégias de divulgação, como a produção de murais na escola?
NATALIA É possível criar outras estratégias de divulgação. Mas, se um mural for criado na escola, é preciso deixar espaço para comentários ou interações, porque senão é como ter um livro na biblioteca com as cinco últimas páginas faltando: vai faltar algo construtivo, que faz com que ele não seja mais um livro.
MIRTA Vamos imaginar uma "semana de Twitter" sobre um assunto de interesse, como por exemplo, o uso do pátio no recreio, onde alunos, professores e funcionários intervêm. Nesse caso, algum grupo poderia tirar conclusões a respeito do assunto e publicá-las para toda a escola. Mas se a situação refere-se a um blog sobre os livros mais recomendados pelos alunos, dando outro exemplo, para que seria necessário publicá-lo em papel? Tudo depende da situação e do gênero trabalhado.
A maioria dos livros didáticos não traz informações sobre essas novas formas de produção de texto. Quais materiais de apoio teórico estão disponíveis para o professor?
NATALIA Os livros não precisam trazer informações sobre "o que é o Twitter", mas sobre o que podemos fazer com ele. Dois aspectos são importantes nesse caso: o técnico e o criativo. O técnico está no Google. Publicar um tuíte não é muito diferente de mandar uma mensagem de texto. Já o criativo pode estar em um livro que fale sobre como escrever um conto, como escrever histórias curtas, que aspectos precisam estar presentes em um texto para gerar mistério, tensão, ironia, poesia. O Twitter é uma plataforma que deve ser usada para se escrever textos com diferentes funções (informar, narrar, fazer rir, fazer pensar). Os novos discursos são construções, na maioria das vezes, baseadas em identidades prévias, das quais nos apropriamos e as modificamos para criar algo novo, mas nunca é completamente novo. Da mesma forma que uma carta e um email são duas variedades do gênero epistolar e um blog pode ser uma variação do gênero diário, da autobiografia ou até mesmo do ensaio, um tuíte é um microrrelato construído em uma nova plataforma, que permite outras possibilidades de interação.

sábado, 2 de julho de 2011

O medo de olhar para a frente


As restrições ao uso das novas tecnologias digitais no mundo da escola ainda são fortes, mas esse cenário tende a se modificar com o tempo. O professor acabará entendendo que lecionar não é mais uma via de mão única, e sim que o aluno tem muito a acrescentar em classe, sobretudo pela facilidade que as novas gerações têm ao usar o computador. As redes sociais podem e devem ser utilizadas dentro do contexto pedagógico, e não somente como formato auxiliar. Esses são alguns pensamentos do pesquisador em tecnologias na educação e coordenador associado do Núcleo de Informática Aplicada à Educação (Nied) da Unicamp, José Armando Valente, que trabalha com o tema desde 1983.
Valente é um raro exemplo de profissional que compôs seu currículo agregando as áreas de educação e engenharia à informática. Tem também o título de doutor em Filosofia pelo Departamento de Engenharia Mecânica e Divisão de Estudo e Pesquisa em Educação do Massachusetts Institute of Tecnologic (MIT). Nesta entrevista a Carta na Escola, Valente fala também da dificuldade que os governos nacionais têm em adaptar o currículo ao uso das novas tecnologias. “O Brasil não está preparado, mas não há país no mundo que esteja neste momento”, afirma.
Carta na Escola: O senhor é engenheiro de formação. Como surgiu o interesse em estudar a educação e associá-la à tecnologia?
José Armando Valente: Bom, fui formado como engenheiro mecânico e, desde a faculdade, eu mexia com computador. Fui ensinar computação na Unicamp e lá conheci um grupo que trabalhava com a tecnologia na educação – portanto, apesar de a tecnologia na escola ser um assunto maior há poucos anos, já se discute esses conceitos para sua utilização na escola há décadas. Em 1983, foi criado o Núcleo de Informática Aplicada à Educação, o Nied, que está na ativa até hoje e experimentou diversas fases tecnológicas. Naquela época, falávamos muito do computador para criar a linguagem operacional chamada Logo, desenvolvida por um pesquisador do MIT, nos Estados Unidos) e que dialogava com o construtivismo. Essa linguagem dizia que, em vez de a máquina instruir o aluno, é o aluno que deveria instruir a máquina. Então, nesse processo, você utilizaria conceitos que permitiram ao aluno aprimorar o próprio conhecimento aos poucos. Veja que não usamos mais o Logo há muitos anos, mas as redes sociais têm a mesma abordagem. Depois focamos mais na educação a distância e nos laptops educacionais, em situações que tornam o ensino mais abrangente e melhor.
CE: Por que é importante a escola abraçar o mundo das redes sociais?
JAV:
 Quando falamos em inclusão digital hoje, estamos nos referindo a um conceito um pouco diferente do que estivemos acostumados nos últimos anos. Agora não se trata mais de ter acesso à tecnologia, porque grande parte da população do Brasil já tem acesso a computadores através da escola, da lan house e do barateamento do computador pessoal. A questão vai além. Já é sobre como o sujeito se comporta no meio on-line e de como pode trazer essa tecnologia para tirar benefícios próprios. A importância da escola hoje é também ajudar as pessoas- a desenvolver essa habilidade. É um processo de formação de pessoas, que é justamente uma das missões da escola. Mais que fazer parte da internet, as redes sociais fazem parte da vida das pessoas. A escola deveria já estar lidando com isso ao incluir as novidades tecnológicas em seu aparato pedagógico. A partir daí, existe o conteúdo das aulas, que pode se tornar mais profundo com o auxílio de toda essa tecnologia.
CE: E de que maneira o uso dessa ferramenta pode fazer a diferença na educação de um estudante?
JAV:
 Hoje a escola está basicamente restrita a lápis e papel. O currículo dela é todo formado assim há muito tempo, os professores foram moldados dessa maneira. Só que hoje temos simulações digitais que formam novos mecanismos para se lidar com o conhecimento, tudo ao alcance do professor. Exemplos: há simulações muito difíceis de você criar utilizando somente a lousa e o giz, e que poderiam rapidamente ser feitos no computador. Estou falando de formas geométricas da Matemática, estou falando de terremotos e tsunamis na Geografia etc. Imagine também uma aula de História, em que você visita um museu on-line. Esses já existem, já há uma interação fantástica atualmente.
CE: E como o senhor avalia que as redes sociais poderiam ser usadas em sala de aula?
JAV:
 Imagine que os adolescentes usam bastante o Twitter. Esse fator já faz dele algo palatável para o professor utilizar em sala de aula, pois desperta um interesse natural. Por que o professor de Língua Portuguesa, por exemplo, não o utiliza para os alunos expressarem ideias em 140 caracteres? É um ótimo exercício de concisão, um trabalho de comunicação sintética que muitos alunos de doutorado não costumam ter. É fundamental saber resumir suas ideias no mundo de hoje. Isso também serve para professores de outras disciplinas, em circunstâncias similares. Agora, claro, o aluno precisa da ajuda do professor para utilizar a ferramenta didaticamente. Não é porque ele está no Twitter que vai sozinho usar da melhor forma possível.
CE: Mas já há professores que usam -blogs, por exemplo, não?
JAV: 
Sim, mas muitas vezes não é um bom uso, ou é um uso incompleto. Serve mais como apoio de material, o blog não está incluso para valer na maneira de dar a aula.
CE: O aluno tende a ter mais interesse ao identificar uma ferramenta que ele usa diariamente?
JAV:
 Sim, mas depende muito se você tem um uso correto da tecnologia. Se você usa mal, sem conseguir agregá-la ao material didático, não adianta. O aluno precisa captar que aquilo está sendo útil para ele. Infelizmente, ainda há essa distância entre a escola de hoje e a vida fora dela, os alunos lidam pouco com o lápis e o papel.
CE: É comum professores serem refratários à ideia de inclusão da internet em sala de aula, principalmente porque conhecem menos essas ferramentas que a maioria dos alunos, que foram criados com elas. Como adaptar os professor sem traumas?
JAV:
 Fazer parceria com os alunos é a melhor forma, sem dúvida. Uma coisa que deve ficar claro é que a educação na era digital é bastante colaborativa, envolve interação e compartilhamento. Não pode existir mais aquela situação em que o professor se prepara para entrar na classe e dar um show-solo. Ele tem de sair do pedestal, a internet não tem nada a ver com isso e, uma vez que ela esteja presente em sala de aula, essa relação muda. Então você pode pedir auxílio para os alunos que têm o conhecimento daquelas ferramentas, que já entendem tudo da parte tecnológica, porque cresceram mexendo -naquilo. O bom professor é aquele que vai aproveitar esse conhecimento do estudante, trazê-lo para a sala de aula e definir como aquele conteúdo vai fazer parte da vida do estudante. Perceba como isso é importante do ponto de vista educacional.
CE: Que casos positivos servem de exemplo da inclusão das redes sociais na sala de aula?
JAV
: Lembro de um caso bem-sucedido que foi durante a moda dos flashmobs. Os alunos estavam nessa onda e os professores organizaram uma tarefa multidisciplinar, na qual os alunos tinham de preparar um evento desses. Há a concepção artística da coisa, há a resolução de problemas para que se concretize o flashmob, aí tem o professor de Matemática que explora as figuras geométricas etc. Os alunos se empolgam.
CE: Os dirigentes do ensino brasileiro têm se preparado para isso? Como o senhor avalia as políticas públicas para tal?
JAV
: Não, eles não estão bem preparados, mas esse não é um fenômeno exclusivo do Brasil. Para falar a verdade, é do mundo inteiro. Não há um só país que já tenha todo um programa de utilização das novas tecnologias no universo educacional e que já esteja em pleno funcionamento. Vejo que, na Inglaterra e nos Estados Unidos, há casos isolados entre escolas e grupos de pesquisas, mas nada que se caracterize como uma política pública. O problema é que essas mudanças curriculares não podem simplesmente ser feitas de cima para baixo. Não adianta o Ministério da Educação dizer que a partir de agora o ensino brasileiro vai ser totalmente dentro da era digital se o professor que está lá em baixo da cadeia não participa, se a escola não está preparada etc.
CE: E qual é a alternativa a isso?
JAV
: Com o tempo essa interação da escola tende a crescer, mas o fato é que os administradores da política pública têm de se reunir com os professores, que estão no dia a dia da sala de aula e sabem muito bem o que os alunos estão trazendo em termos de novidades. Entendendo o que os professores enfrentam, você consegue assimilar as novidades e as melhores maneiras de incluí-las no currículo.
CE: Mas a velocidade das mudanças das políticas educacionais é lenta, pode ficar décadas sem mudar. E a tecnologia muda em questão de meses. Como conciliar isso?
JAV
: De fato, a política nunca vai dar conta de acompanhar o desenvolvimento tecnológico. Agora, o papel da política é preparar todos os personagens do ensino para a flexibilidade que virá do desenvolvimento tecnológico, de mostrar sobre como se preparar para ele. Essas bases são extremamente importantes não só para o mundo escolar, mas também para a nossa sociedade. Cada grande mudança de tecnologia dessas contém uma forte concepção educacional. Portanto, a política não vai acompanhar o avanço tecnológico, ela deve preparar o terreno para que aconteça.

O novo Ensino Médio


Foi pensando nas grandes mudanças tecnológicas e na velocidade com que a informação se propaga nos dias de hoje é que o Conselho Nacional de Educação (Conae) promoveu debates que culminam agora nas mudanças das diretrizes nacionais para o Ensino Médio brasileiro. Dois pontos se destacam entre as mudanças. Primeiro, o incentivo à pesquisa por parte dos estudantes, que passam a precisar mais dos professores para ajudá-los a procurar o conhecimento em vez de simplesmente ouvir o conteúdo deles. Segundo, a maior autonomia das escolas ao formatar a grade curricular, tanto na forma do conteúdo quanto no tempo de formação do Ensino Médio – por exemplo, os estudantes noturnos podem se formar em quatro anos em vez de três.
Para entender às novas sugestões, Carta na Escola entrevistou José Fernandes de Lima, relator da proposta das novas diretrizes e membro do Conae desde 2008. Alagoano de Maceió, José Fernandes teve a trajetória na área de Exatas, formando-se em Fisica na UFPE e, posteriormente, concluindo seu mestrado e doutorado nesta área na USP. Foi chefe do departamento de Física da Universidade Federal do Sergipe (UFSE), diretor de programas da Coordenação de Aperfeiçoa-mento Pessoal de Nível Superior (Capes) e secretário de Educação de Sergipe entre 2007 e 2010 na primeira gestão do governador Marcelo Déda (PT).
Nesta entrevista, José Fernandes de Lima ressalta que o foco do projeto é criar uma identidade para o Ensino Médio e corrige a interpretação, veiculada por parte da imprensa, de que teremos uma divisão por áreas, como ocorria antigamente. “A escola precisa contemplar as quatro dimensões do ensino: o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura. Os mais antigos lembram-se de quando tínhamos o colegial dividido (entre Clássico e Científico), e isso gerou uma confusão de que teríamos um Ensino Médio temático com essas áreas. Não haverá divisão. Pelo contrário, o Ensino Médio tem de contemplar todas elas”, diz.
Carta na Escola: O Ensino Médio é, atualmente, a etapa da educação brasileira com piores índices de qualidade. Qual é exatamente o problema com ele?
José Fernandes de Lima: Não concordo exatamente com essa afirmação. Pode até haver problemas nos índices atuais, mas, se compararmos com o passado, veremos que o Ensino Médio evoluiu bastante. O Brasil, historicamente, trabalhou com uma educação excludente. Até o começo da década de 1990, tínhamos menos de 4 milhões de alunos nessa etapa da educação. Agora já temos mais de 8 milhões, e ainda temos números difíceis, com 15% da população de 15 a 17 anos que não está conseguindo entrar nas escolas desse nível. Só 50% dos matriculados estão na idade correta. Isso não significa que esse quadro é pior do que era antes, porque, antigamente, nem tínhamos as pessoas na escola. Diz-se que o Ensino Médio não é bom porque a sociedade se dá conta disso. Avançamos muito nos últimos 20 anos no que tange a inclusão, e isso torna mais claro o ponto de vista do sucesso ou falta dele entre os alunos. Então, houve evolução.
CE: E quais são os focos das novas diretrizes para o Ensino Médio?
JFL: Pensamos que o currículo deva contemplar quatro dimensões: o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura. Na medida em que esses pilares forem realmente debatidos nas escolas, teremos um Ensino Médio mais próximo dos estudantes e diminuiremos a evasão, aumentaremos o entusiasmo e a qualidade. Algumas pessoas confundiram que as quatro dimensões seriam uma volta ao colegial antigo (dividido entre Clássico e Científico). Mas não é nada disso, é um Ensino Médio só.
CE: Então não teremos essa divisão entre quatro tipos de Ensino Médio? Houve quem interpretasse assim, inclusive na imprensa…
JFL: É verdade, mas não estamos propondo que o aluno tenha quatro alternâncias de escolha. É o contrário: o Ensino Médio tem de contemplar todas as quatro dimensões. Só assim ele vai atender aos interesses das pessoas. Antigamente, o Brasil já tinha essa divisão no colegial, mas viu-se depois que não dava certo. Quem entendeu desse jeito é porque estava lembrando de como era. Não queremos nem mesmo a divisão entre o ensino técnico e de vestibular. Mas a parte de formação para profissionais no ensino técnico terá diretrizes próprias.
CE: Qual é o objetivo do Conselho Nacional de Educação ao propor autonomia escolar para montar projetos pedagógicos?
JFL: O objetivo é bem mais amplo do que simplesmente discutir a questão de ampliação e flexibilização da grade curricular. O que movimentou o CNE para atualizar as diretrizes nacionais curriculares do Ensino Médio é o fato de vivermos num mundo de grandes transformações tecnológicas e de grande quantidade de conhecimento gerado através das comunicações e tecnologias de informação. Isso leva a escola a se repensar. Significa que ela está deixando de ser a única fonte geradora de conhecimento e, como tal, tem de se estruturar para atender os jovens. E se isso é verdade para a educação de um modo geral, é muito mais verdade para o Ensino Médio, porque é a fase em que as pessoas estão tomando decisões para o futuro. Então, a escola tem de atender ao projeto de vida do estudante. Praticamente, todos os países hoje estão repensando a estratégia educacional baseando-se nisso, embora aqui estejamos traçando um caminho próprio.
CE: Já que falamos em ensino técnico, o MEC apresentou agora o Pronatec, em que pretende aumentar consideravelmente o número de formandos no Ensino Médio técnico em médio prazo. Onde entra o ensino técnico nessa nova proposta?
JFL: Essas diretrizes vão tratar especificamente dessa área, e não estou por dentro. Vou aguardar as reuniões do Conselho sobre o tema. Aí, sim, entenderemos todo o conjunto.
CE: E o que esse novo Ensino Médio deve corresponder?
JFL: Primeiro, ela tem de ser universal. Segundo, existe a forte concepção de que a boa escola é a que se volta para a formação do cidadão e que prepara o estudante para o mundo do trabalho – e, com isso, estamos automaticamente dizendo também que não deve mais prevalecer a divisão da escola entre a preparação para o vestibular e para o trabalho. Ele tem de ter essas características mistas, uma nova identidade. E para a escola ter identidade, ela precisa ter flexibilidade para atender a demandas regionais. Ao mesmo tempo em que precisa se preparar para o uso da tecnologia, precisamos que ela não abra não dos valores, do comportamento ético, da sustentabilidade e da promoção dos direitos humanos.
CE: Já existe dificuldade de fiscalização da qualidade das escolas no País. Não seria mais difícil fiscalizá-las a partir do momento em que elas tenham mais liberdade de mexer no currículo?
JFL: Isso é bem importante. Democraticamente, essas diretrizes devem nortear as especificidades das escolas para que atendam as características de sua região. Só que temos as avaliações nacionais, investimentos nacionais em material didático e os investimentos em professores. Então, uma vez definida a identidade da escola, teremos um sistema de avaliação que interpretará se a estratégia de cada escola está dentro dos limites exigidos. Veja, existem as áreas do conhecimento exigidos por lei: Linguagem, Ciências da Natureza, Matemática etc. A liberdade das escolas está no comportamento em sala de aula, mas tudo isso deve seguir dentro dela.
CE: E como será o tratamento com a escola que não consegue se desenvolver?
JFL: Entendemos que a fiscalização da escola não deva ser usada para premiar ou para punir, mas apenas para acompanhar suas estratégias, e que, quando necessário, façamos a correção de rumo. Se não vai bem, façamos novos investimentos, chamamos o sistema para a discussão- e para tratar novos planos para ela.
CE: A mudança nas diretrizes também dá importância ao incentivo à pesquisa, confere?
JFL: A pesquisa deve ser um princípio pedagógico, o que mudaria a forma rígida de se trabalhar em sala de aula. As pessoas associam o termo “pesquisa” à existência de grandes laboratórios. O que temos de incentivar é o comportamento de pesquisa em sala de aula. Em vez de dar o assunto pronto aos alunos, queremos que o professor promova a procura desse conhecimento por parte do aluno, que ele pesquise e descubra,- que trabalhe em grupo, que aprenda a aprender.
CE: No projeto que o senhor apresenta, quais as especificidades para o Ensino Médio noturno?
JFL: Neste ponto é importante providenciar formas de organização que permitam que os alunos desse período, que normalmente trabalham o dia todo, tenham todo acesso ao ensino e o concluam. Então há flexibilização de carga horária, mas isso também funciona para o período diurno. Quem estuda de manhã pode usar a alternativa de ampliação de carga horária à tarde. Já os estudantes noturnos podem se formar em quatro anos em vez de três, por exemplo, ou então em três anos e meio. Também incentivamos o ensino a distância – se houver a disponibilização do conteúdo por meio da internet, por exemplo, então que isso seja mais uma opção de aprendizagem.
CE: E em que pé está a aprovação das mudanças? Quando entrariam em vigor?
JFL: O documento já foi aprovado na Câmara de Educação Básica do Conae. Passou agora por uma revisão técnica e foi encaminhado para o MEC, que deverá homologar. Na sequência deverá publicar essa diretriz no Diário Oficial, chegando ao conhecimento de conselhos estaduais e municipais e de escolas. Esse documento é fruto de um grande debate que começou em 2010 e que foi discutido com representantes de professores, de estudantes, secretários de estado, especialistas e do MEC. Conta com apoio considerável.