quinta-feira, 15 de agosto de 2013

A aula e a vida

Começo o dia chegando à escola onde trabalho pensando em tudo que havia planejado para aquela aula. E me vejo, assim que as crianças chegam e vão se acomodando sob a minha tutela (sou enjoado mesmo), observando detalhadamente cada uma delas. Um deles me chama muito a atenção pela sua timidez, me vejo um pouco nele (há muitos anos atrás). Os colegas puxam assunto com ele, mas observo que ele mal responde e sua voz é quase imperceptível. Quando ele vem pedir para ir ao banheiro pergunto várias vezes o que ele quer, pois não o ouço. Chego o ouvido bem perto dele e sinto, mais que ouço, o que ele quer. Até seus passos, lentos, refletem sua timidez. Fico imaginando o quanto a vida vai lhe cobrar por esta dificuldade de relacionamento, por sua pouca comunicação, mas, ao mesmo tempo, reflito sobre as outras pessoas. Muitas das pessoas que conheço deveriam ter as qualidades deste meu aluno, se conterem mais, se envergonharem do que fazem e manterem mais a sua língua dentro da boca. Pessoas que se autodenominam "simples", "boas", mas que vivem disparando contra os outros os maiores descalabros, vivem multiplicando as desgraças alheias como se estivessem se vangloriando delas. Pessoas estas que perderam a capacidade de ficarem vermelhas diates das mais improváveis situações. Penso que que jamais deveríamos perder completamente a nossa timidez. Talvez assim compreenderíamos mais as dificuldades dos outros e respeitaríamos mais as diferenças e os problemas e não ficaríamos "felizes" com os problemas alheios.